Um poema ... de Aida Nuno

Não tenho o dom da palavra e por vezes não consigo exprimir o
que me vai na alma mas há sempre alguém que o sabe fazer de uma maneira extraordinária e que por isso tem a minha admiração. Aqui fica este poema de Aida Nuno, que dedico aos pais do Marquito, ao António e à Cristina:

Ainda me arde a chaga nunca curada
Dor que consome e não se extingue
Pássaro voando entre árvores de verdes transparentes
Pisando levemente, de quando em vez, este meu chão
Perdido estás aos meus olhos mas delicado é o teu canto
Inebriantes sonhos, companhia das minhas madrugadas.

Vem, meu amor, vem, quero escutar o bater leve das tuas asas
Quero embalar esse teu corpo tão delicado e tão presente
Onde ainda bate mansamente o teu terno coração.

Na noite, encostada às vidraças não respiro
Escuto no silêncio e tu não vens
Para quando o encontro? Onde?
Na brisa ou no vento?
Sem um lamento, muito docemente espero
Caminho de Luz, definição simples e pura
Tudo efémero menos esta saudade eterna
Entre clamores, sussurros e lamentos
Tempo, noite, dia e tudo se conjuga
E tudo se completa como uma sinfonia
Chama que refulge e me liberta
Num misto de agonia e de alegria.

Quando? Diz a sonata. Quando meu amor, quando?
Quando te afagarei porque o amor esse não morre
Tudo onde toco e onde tu tocavas falam da nossa história
Filho, grandeza, bondade, existência partida em pedacinhos
Espalha nesta terra, ainda nossa, o germe da doçura
Anjo para sempre, asas libertas, deixei-te desprender, voar
Liberta a tua mãe de tanto pranto
Tenho de sorrir, sinto o teu manto cobrir-me quente e diáfano
Como o sol e a lua fecundando o espaço
Fazendo-me acreditar que ainda existes.

Afastem-se nuvens negras, mares revoltos, terra seca
O meu filho é mais do que tudo o que se vislumbra
É muito mais do que isso.

Viveu, sofreu, amou e muito deu a quem o sentiu como eu
Sempre e para todo o sempre assim tão perto...
Olhem no azul lá longe, aquele pássaro rompendo horizontes
É ele que se afasta e escreve em tanta luz o seu caminho
Alegria meu amor, muita alegria por tudo o que foste e que nos deste.


1 comentários:

aidacampos disse...

Obrigada, muito abrigada...

Estou comovida ao ler o meu poema... Nada é em vão quando vem do fundo do coração.

Inebriei-me de amor ao escrevê-lo e comovi-me agora ao lê-lo.

Quem mo teria ditado...? pergunto a mim mesmo. Quem me soprou estas palavras escritas rapidamente num momento mágico?

Tudo é um místério e aqui estamos nós unidos por algo que nos transcende.

Um abraço muito forte para todos.

Aida Nuno